Victoria Bechara Do UOL, em São Paulo
O presidente Lula (PT) alfinetou o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) hoje ao dizer que o projeto para construir um parque na favela do Moinho, no centro de São Paulo, não pode ser construído "às custas do sofrimento dos moradores".
O que aconteceu
Lula formalizou hoje a solução habitacional para a favela do Moinho. Em parceria com o governo de São Paulo, a União vai comprar imóveis para que os moradores deixem a comunidade.
Presidente mandou indireta a Tarcísio e criticou ações da Polícia Militar no local. "O governo do estado disse que quer fazer uma praça aqui, por mais que seja bonito um parque, ele não pode ser feito às custas do sofrimento de um ser humano", disse.
Local virou alvo de disputa entre o Planalto e o governo Tarcísio. Em maio, a Polícia Militar deflagrou uma operação para retirada dos moradores da favela, marcada por cenas de truculência dos agentes de segurança. A ação foi festejada por Tarcísio e pelo prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que atribuíram a ela o esvaziamento no fluxo da "cracolândia".
O presidente afirmou que terreno da União será cedido após conclusão do acordo. "Vamos fazer a cessão definitiva ao governo do estado, mas isso depois de provar que vocês foram tratados com decência e que respeitaram a dignidade de cada um de vocês", disse Lula. Vídeos de repressão policial circularam pelas redes sociais e aumentaram a temperatura dos debates sobre o tema. O acordo com o governo paulista foi paralisado pela gestão petista após os casos de violência da PM.
Mais cedo, Tarcísio disse que sua gestão já havia começado projeto na favela do Moinho antes da chegada da União. "Hoje, 386 famílias já foram removidas. Quando o acordo com o governo federal foi fechado, 186 já haviam sido retiradas". "Nosso objetivo, sinceramente, não é fazer evento, o nosso objetivo é trazer emprego, é resolver o problema", afirmou o governador.
É importante que as pessoas que querem visitar esse parque, brincar nesse parque e passar domingo nesse parque não venham pisotear sangue de pobres que aqui foram agredidos para que eles fizessem [o parque]. Vamos fazer com decência e com muita dignidade.
Lula
A minha preocupação é que se a gente fizer a cessão e eles tiverem que ocupar isso aqui amanhã, eles vão usar outra vez a polícia e vão tentar enxotar vocês.
Acordo para moradia
Os governos federal e estadual fecharam acordo para realocação das famílias. A União vai entrar com subsídio de R$ 180 mil, e o estado de São Paulo, com R$ 70 mil. Os moradores também receberão um auxílio aluguel de R$ 1.200 mensais durante o período de transição.
A proposta contempla famílias com renda de até R$ 4,7 mil mensais. Os imóveis serão adquiridos por meio da compra assistida do Minha Casa, Minha Vida. A mesma modalidade foi empregada para atender às famílias que perderam casas no desastre no Rio Grande do Sul em 2024.
Apesar de a cerimônia tratar de acordo feito com a gestão estadual, o governador não compareceu. Tarcísio também participou hoje de uma agenda sobre moradia, mas em São Bernardo do Campo, berço político de Lula. O governador é possível adversário de Lula na eleição de 2026.
Uol
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