As reações erráticas de Tarcísio o prenderam a uma armadilha da qual terá muito trabalho para escapar
Dora Kramer
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) perdeu uma boa oportunidade de exibir credenciais condizentes com o posto de presidente do Brasil.
Ele não passou no teste de se mostrar ao país apto à função e pode ter prejudicado o plano de reeleição em São Paulo ao se render a conveniências de um grupo político em detrimento do interesse nacional.
Reagiu como militante de um nicho, não atinou para as consequências da chantagem de Donald Trump e paga o preço por ter se posicionado distante da pretendida condição de estadista.
Quando percebeu o erro, o dano estava feito. Inclusive porque ao calibrar o discurso de apoio a Trump o fez de modo atarantado, pedindo ao Supremo Tribunal Federal autorização para Jair Bolsonaro (PL) ir a Washington negociar recuo no tarifaço e correr a Brasília para uma reunião cenográfica com o encarregado de negócios da embaixada americana.
Tarcísio de Freitas agora tenta aparecer como mediador do confronto, afastando a questão política -cerne da manifestação do celerado do Norte- para dar contornos técnicos ao embate. Diz que o momento "é complicado" e prega que "todos se deem as mãos" para resolver o problema.
A referida complicação foi criada por Bolsonaro, a quem o governador presta reiterada reverência em busca dos votos do inelegível. Do lado de quem confere ao ex-presidente o papel de chefe tampouco as coisas ficaram fáceis para ele.
Os bolsonaretes não gostaram de ver Tarcísio mudando o rumo da prosa. Rechaçam a ideia de tê-lo em posição de destaque na condução da crise, exigem dele dureza nos ataques ao governo e ao STF, além de apoio na cobrança por aprovação da anistia no Congresso.
O governador está entre a cruz do bolsonarismo, já enroscado no golpe atarantado e agora atrapalhado no enrosco das tarifas, e a caldeirinha do eleitorado, atento aos reais propósitos dos pretendentes a presidente.
É aquela situação difícil também conhecida como camisa de 11 varas, da qual será trabalhoso Tarcísio se desvencilhar.
Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/dora-kramer/2025/07/entre-a-cruz-e-a-caldeirinha.shtml