11 de abril de 2025
Windor Roberto Magalhães dos Santos (1941 - 2025) - Arquivo pessoal |
Mortes: Nome 'diferentão' e amor aos esportes marcaram vida de juiz

Mortes: Nome 'diferentão' e amor aos esportes marcaram vida de juiz

Windor Roberto Magalhães dos Santos se orgulhava de sentença contrária ao cantor Roberto Carlos

Vera Magalhães

Ele passou boa parte da vida tendo de soletrar o próprio nome, que parecia inglês, mas era uma invenção da sua avó, lá de Ribeirão Preto. Apesar disso, Windor Roberto, filho de Windor Antonio, gostava do nome, e não escondia a frustração por não ter conseguido passá-lo adiante, pois teve duas filhas -e uma delas, que lhe deu dois netos, não acatou a singela ideia de dar continuidade à dinastia.

O nome diferentão não foi a única coisa que o filho único, nascido nas Laranjeiras, no Rio de Janeiro da mãe Alduína, herdou do pai paulista. Também vieram dele a paixão pelos dois tricolores, Fluminense e São Paulo, e pelo tênis, esporte no qual pai e filho duelavam e se estranhavam nas quadras do Club Athletico Paulistano ou da chácara da família na zona sul da capital.

Mais tarde, depois de uma breve hesitação, também foi convencido a buscar a mesma carreira do patriarca, a magistratura. Foi amor à primeira sentença. Aos 37 anos, o então advogado, formado na turma do pesado ano de 1964 da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), finalmente encontrou o ofício no qual se realizou.

A insistência para que prestasse vários concursos até ser aprovado, em 1979, foi da mulher (ela tinha horror a ser chamada de esposa), Vera Maria. O casamento, em 1970, foi a união do filho de juiz e a filha de promotor de Justiça, e as tertúlias jurídicas foram uma das tônicas de uma relação intensa, marcada por algumas tentativas malsucedidas de separação, e que perdurou até a morte dela, em 2018.

A carreira de juiz ditou as mudanças da família pelo interior paulista: primeiro para Andradina, no noroeste do estado, e depois para Santo André, no ABC, onde viveram por 13 anos. Ali, Windor ingressou no Rotary, presidiu júris memoráveis, sofreu ameaças de alguns réus que condenou e acumulou troféus no tênis pelo Clube Atlético Aramaçan.

Foi promovido a juiz do 1º Tribunal de Alçada Civil em 1995, e se tornou desembargador do Tribunal de Justiça em 2005. Aposentou-se em 2011, às vésperas da chamada "expulsória", que ainda acontecia aos 70 anos. Seu pendor pela magistratura era tal que não encontrou energia para voltar a advogar ou se dedicar a outra atividade profissional.

Os colegas de toga se lembram do rigor jurídico e da tenacidade com que defendia seus pontos de vista nos julgamentos. "Enquanto judiquei na área cível, aprendi com ele e guardei seus ensinamentos na busca por uma Justiça mais humanizada. Foi um exemplo de retidão e justiça", lembrou o também desembargador aposentado Newton de Oliveira Neves.

Entre as decisões de que mais se orgulhava estava a sentença contrária à tentativa do cantor Roberto Carlos de impedir a publicação de uma série de reportagens pelo jornal "Notícias Populares", em que fez um libelo a favor da liberdade de imprensa.

A leitura diária dos jornais, aliás, figurava entre seus maiores prazeres até o fim, juntamente com a música, o cinema e os muitos esportes que praticou. Morreu no último dia 7, em São Paulo, aos 83 anos. Deixa as filhas Vera Regina e Roberta e os netos Lucas, Felipe, Heloísa e Pedro.

Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2025/04/mortes-nome-diferentao-e-amor-aos-esportes-marcaram-vida-de-juiz.shtml