As remessas de diamantes que saem de Antuérpia, um dos mais movimentados centros mundiais da pedra, estão "paralisadas"
Por Leslie Hook - Financial Times, de Londres
Os comerciantes de diamantes estão alertando que o setor, que movimenta US$ 82 bilhões, "está paralisado" por causa das tarifas de Donald Trump e da guerra comercial global, com as remessas através do centro de comércio de pedras preciosas de Antuérpia caindo para cerca de um sétimo dos níveis normais.
As tarifas abrangentes de Trump incluem uma taxa de 10% sobre as importações de diamantes, bem como taxas "retaliatórias" variáveis conforme o país de origem, muito embora muitos outros minerais como ouro e cobre estejam excluídos das medidas.
Os EUA são o maior consumidor mundial de diamantes, respondendo por cerca de metade da demanda global, mas precisa importar todos eles, pois não tem minas de diamantes em seu território.
Embora a Casa Branca tenha "pausado" as chamadas tarifas retaliatórias por 90 dias, a tarifa básica de 10% já está em vigor e continua valendo. A perspectiva incerta está tendo um efeito negativo sobre os comerciantes de pedras preciosas, bem como sobre a vasta indústria de polimento da Índia.
As remessas de diamantes que saem de Antuérpia, um dos mais movimentados centros mundiais da pedra, ao lado de Dubai, estão "paralisadas" depois que Trump anunciou as novas tarifas globais este mês, afirma Karen Rentmeesters, executiva-chefe do Antwerp Diamond Centre.
Ela diz que, "não faz sentido" os diamantes terem sido incluídos nas tarifas dos EUA e comparou a turbulência no setor altamente globalizado à provocada pela pandemia de covid-19.
Rentmeesters estima que as remessas diárias são hoje de apenas um sétimo dos níveis normais. "Isso está provocando uma ruptura no setor", afirma ela. "Tudo literalmente parou."
A indústria dos diamantes vinha se recuperando de vários anos difíceis em que a pandemia e a concorrência dos diamantes produzidos em laboratório reduziram a demanda do consumidor. "A indústria não se encontra em um bom lugar", diz Richard Chetwode, um veterano do setor e presidente da companhia mineradora Trustco Resources. "Se você de repente impõe tarifas, está crucificando o setor", acrescenta, observando que as taxas sobre os diamantes não vão levar a manufatura de volta para os EUA.
Um diamante típico é transportado diversas vezes ao redor do mundo, antes de chegar às mãos de um cliente - entre países produtores como Botsuana, centros comerciais como Dubai, e os polos da lapidação da Índia.
A única parte da cadeia de abastecimento que fica nos EUA é o processo de certificação. A maior agência de certificação do mundo, a Gemological Institute of America (GIA), fica na Califórnia e emprega 3.200 pessoas.
O processo normal de entrada e saída de diamantes dos EUA para certificação está agora ameaçado. Pritesh Patel, diretor operacional da GIA, diz que a empresa está reforçando seus serviços no exterior em seus oito escritórios internacionais por causa das tarifas. "Estamos ampliando os serviços, especialmente em Dubai e Hong Kong, para absorver parte do impacto. A tarifa traz muita incerteza para toda a cadeia de abastecimento de ponta a ponta", diz ele.
Patel acrescenta que a GIA está estudando se os diamantes levados para os EUA apenas para certificação poderiam obter isenção de tarifas por meio de um regime de admissão temporária ou de uma zona de livre comércio.
A guerra comercial global deverá afetar a demanda geral por diamantes, que estava apenas começando a se recuperar de vários anos difíceis. Ela também vai, segundo analistas, criar grandes deslocamentos na cadeia de abastecimento.
A Índia, cuja grande indústria de polimento processa mais de 90% dos diamantes do mundo, poderá ser particularmente afetada. Como os diamantes acabados são considerados "originários" do país onde são lapidados, a multibilionária indústria exportadora indiana será atingida por essa tarifa de 27% imposta pelos EUA aos produtos indianos - a menos que os dois países cheguem a um acordo para evitar as tarifas.
Para a demanda mundial por diamantes, "a incerteza é problemática", diz Paul Zimnisky, um analista independente do setor. "Quando as pessoas estão inseguras, elas hesitam em comprar, hesitam em investir. Acho que haverá algum impacto sobre itens de consumo discricionário, como artigos de luxo como os diamantes."
A Anglo American, controladora da De Beers, reduziu em US$ 4,5 bilhões o valor da gigante produtora de diamantes nos últimos dois anos, devido às condições desfavoráveis do mercado. A Anglo American está preparando a cisão da De Beers em uma oferta pública inicial de ações (IPO) que deve acontecer ainda este ano.
A Signet Jewelers, listada em Nova York e a maior varejista de joias de diamantes do mundo, também vem enfrentando dificuldades com as tarifas. A companhia informou seus fornecedores em 4 de abril que não arcará "de forma alguma" com os impactos das novas tarifas sobre pedidos de compra já existentes, o que significa que ela exigirá que os fornecedores estrangeiros arquem com o custo das taxas.
Em uma carta a que o "Financial Times" tece acesso, a Signet também pediu aos seus fornecedores que enviassem os pedidos existentes para os EUA o mais rápido possível, "preferencialmente em abril e maio". (Tradução de Mario Zamarian)
Valor
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